O racismo e o futebol

Entende-se por racismo no futebol qualquer prática racista (normalmente xingamentos ou algum tipo de sinal) realizada em campo durante alguma partida de futebol ou ainda nas arquibancadas, direcionada a algum dos participantes diretos da partida. Isso tende a acontecer com certa facilidade mesmo havendo a pressão da mídia e da sociedade contra esses casos porque o futebol é um esporte que facilmente une pessoas de todas as "raças", considerando-se principalmente afrodescendentes e eurodescendentes. Apesar de estar voltado para uma situação em particular (o jogo de futebol), é considerado como racismo normal e punido da mesma forma que qualquer outra manifestação racista contra a pessoa.

O livro O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Rodrigues Filho (1947), é sem dúvida, em língua portuguesa, o texto fulcral para se iniciar a discussão sobre relações étnico-raciais no futebol brasileiro. Nesta obra prima, Mário Filho brinda-nos com os capítulos: Raízes do saudosismo; O campo e a pelada; A revolta do preto; A ascensão social do negro;

A provação do preto e A vez do preto. Mário Filho utiliza tanto o termo "negro" quanto "preto". Atualmente, o termo "preto" poderia ser interpretado como de cunho racista. Entretanto, à época, não existia este tipo de discussão. Anatol Rosenfeld publica em 1954, 1955 e 1956, no anuário Staden Jahrbuch, do Instituto Hans Staden, três trabalhos sobre as questões étnico-raciais no Brasil. Escritos na língua alemã, estes três estudos foram reunidos no livro Negro, Macumba e Futebol, lançado no Brasil em 1993 pela editora Perspectiva. Outro livro em língua portuguesa que trata da temática do racismo no futebol é O Desporto e as Estruturas Sociais de Esteves (1967). Este escritor português desenvolve, no capítulo "O Negro e o Desporto", reflexões que posteriormente seriam ampliadas em outro livro: Racismo e Desporto (1978), no qual destaca os aspectos do racismo desportivo no Brasil. A questão do racismo no futebol é retomada no Brasil em 1998 por meio de um artigo contundente: "A linguagem racista no futebol brasileiro" (SILVA, 1998). Neste trabalho, o autor interpreta notícias veiculadas em jornais após as derrotas da seleção brasileira em Copas do Mundo.

Discute o papel da mídia na reprodução e construção do racismo no futebol brasileiro e conclui que nas derrotas o sentido construído socialmente para determinadas metáforas desclassifica o jogador, sobretudo, como ser humano e não apenas como atleta. Esse sentido desclassificatório dirige-se com mais ênfase a determinados grupos de jogadores, que em geral são negros ou mestiços. Em 1999, Soares publica um artigo na Revista Estudos Históricos que contesta as descrições elaboradas por Mário Filho em O Negro no Futebol Brasileiro, dizendo que as narrativas da obra funcionam como história mítica que vai sendo atualizada, principalmente, em função das demandas às denúncias racistas. Esta tese recebe críticas contundentes de Murad (1999) e um pouco mais brandas de Helal e Gordan Jr. (1999).

A primeira tese de doutorado que vai tocar diretamente na questão do racismo no futebol brasileiro é o trabalho de Silva (2002), intitulado Futebol, Linguagem e Mídia: Entrada, Ascensão e Consolidação dos Jogadores Negros e Mestiços no Futebol Brasileiro. Além de ratificar as conclusões demonstradas no artigo A linguagem racista no futebol brasileiro, Silva apresenta um tópico inédito até então. Em sua conclusão, introduz uma discussão sobre as estruturas de dominação que dificultam a ascensão dos treinadores negros no Brasil.

Nas entrevistas que realizou com jornalistas, ficou evidenciado que os negros têm muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho de treinadores de futebol. Em 2010, Marcel Diego Tonini defendeu a dissertação de mestrado “Além dos gramados: história oral de vida de negros no futebol brasileiro (1970-2010)”. Neste trabalho, o autor focaliza o mercado de trabalho dos treinadores negros. A partir da análise e interpretação de 20 entrevistas, realizadas com ex-jogadores, árbitros e outras pessoas do cotidiano do futebol, conclui que existe uma herança do ideário escravocrata, cuja ideia é a de que o negro não serve para pensar e, por esta razão, seria incapaz de comandar.

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